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  • Foto do escritorDra. Elba Ássima

Antidepressivos: Mitos e Verdades

É comum nos depararmos no consultório com duas situações visivelmente desgastantes para as pessoas que procuram tratamento para depressão ou outros problemas emocionais.

Primeiro, temos que lidar com um intenso e inexplicável sentimento de culpa. Muitas vezes, o paciente adia a consulta com um psiquiatra ou mesmo procura profissionais não especialistas para tratar da depressão em função desta sensação de culpa.

Mas, culpa por quê? Em uma conversa mais cuidadosa, logo se identifica a origem da culpa: o pensamento (absolutamente infundado) de que ter depressão é sinônimo de fraqueza, incapacidade de reação da pessoa, uma verdadeira prova de fracasso em lidar com situações facilmente contornáveis pela maioria das pessoas.

É interessante a constatação de que a pessoa não sente nenhum tipo de constrangimento ou culpa ao ser informada que está com uma doença física como pressão alta, diabetes, osteoporose ou hipotireoidismo.

Embora o status de doença da depressão já seja atualmente bem estabelecido, com a identificação de várias alterações biológicas, assim como nas doenças físicas supracitadas, o fato de grande parte da sintomatologia depressiva ser da esfera emocional parece lhe tirar o status de uma doença verdadeira e fazer com seja encarada mais como uma fragilidade pessoal, um fracasso em superar problemas administráveis para as pessoas que não têm tal fragilidade.

É comum, inclusive, amigos, parentes e colegas estimularem o paciente com frases do tipo reage, você é capaz de superar tudo isso, tira umas férias e tudo vai se resolver, a cura está dentro de você, etc. Como afirmado previamente, a depressão é uma doença sistêmica, com várias alterações biológicas afetando diferentes órgãos.

O segundo grande obstáculo a ser vencido pelo paciente, com o auxílio do psiquiatra, é a crença de que antidepressivos vão danificar o cérebro (“queimar neurônios”), causar dependência, deixar a pessoa boba, alterar a personalidade da pessoa, deixá-la apática, sem reatividade emocional.

Estas são apenas algumas das crenças alimentadas pela ignorância e pelo mau uso dos meios de comunicação de massa para propagar notícias sensacionalistas, totalmente desprovidas de validação científica.

Estudos recentes têm demonstrado exatamente o oposto. Pesquisas utilizando exames de ressonância magnética, algumas das quais tivemos a oportunidade de participar, têm demonstrado que a atrofia de determinadas estruturas cerebrais é proporcional ao tempo em que a pessoa deprimida fica sem tratamento ou passa por tratamentos inadequados.

Neste ponto, é importante esclarecer que apenas a utilização de medicações com propriedades antidepressivas e algumas modalidades de psicoterapia (por exemplo, psicoterapia cognitivo comportamental e terapia interpessoal) têm-se mostrado eficazes no tratamento da depressão.

Nenhum tratamento alternativo tem embasamento científico no tratamento da depressão e não passam de placebos (estratégias inertes que funcionam temporariamente para alguns pacientes que são sugestionáveis e acreditam intensamente na eficácia do tratamento). Pois bem, estudos com ressonância magnética e sofisticadas técnicas de imagem cerebral têm mostrado que o tratamento com antidepressivos reverte as alterações cerebrais presentes na depressão.

Ainda, os riscos de doenças físicas diversas e o aumento da mortalidade associados à depressão não tratada ou tratada de maneira inadequada também são revertidos com o tratamento adequado com antidepressivos. Estes, na verdade, parecem representar o tão buscado tônico cerebral, já que estudos tanto com animais como com humanos têm mostrado que essas medicações, quando utilizadas em doses e indicações corretas e por tempo apropriado, são neuroprotetoras (protegem o cérebro contra agressões dos mais variados fatores, incluindo o próprio estresse).


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